
“E daí se cair?”
Assim o jogador perguntou aos torcedores no portão do Independência.
Respondo:
Se ao final do campeonato cairmos,
o sol nascerá no outro dia.
Mesmo com o os jogadores de férias,
a grama do CT será irrigada.
Se ao final do campeonato cairmos,
2024 será um ano de reconstrução.
Não será o primeiro e talvez não seja o último,
O americano é antes de tudo um resiliente.
Se ao final do campeonato cairmos,
O que cairia de fato é o sonho.
A realidade nos acordaria de um devaneio,
Um delírio de mudarmos de degrau na ordem das coisas.
Mas saiba, bocudo jogador,
Que a queda que nos entristece não nos mata.
O América que você vive no CT não é nada,
Nem mesmo um reflexo de um nada.
Dirigentes presentes e passados, alguns apaixonados e outros oportunistas,
São hoje apenas retratos arcaicos em uma sala da sede onde nada há.
A poesia disso é que de fato nada nunca houve,
Pois o América não é e nunca foi seus dirigentes, por mais que gostariam.
Sabe o que é o América, bocudo jogador?
O América é um ideal.
É um jeito de amar.
É uma profissão de fé de gente, gente real, que respira América.
Se ao final do campeonato cairmos,
Ronaldo ainda estará na Pitangui com o Rex2.
Dona Zuzu, que já é mais que gente, é adjetivo, ainda tentará por ordem.
O pessoal das organizadas ainda vai balançar as bandeiras com garra.
Marinho vai nos contar contos de guerras passadas.
Verei gente boa, muito, mas muito melhor do que os que estão em campo,
Conversarem sobre uma caravana, um abraço ou um gesto de amor ao clube.
Gente muito melhor e mais poderosa que você, jogador, já nos desprezou.
Mas esse ano vocês se divorciaram de nós.
Nos encontramos no Independência e nem nos cumprimentamos.
Na vitória ou derrota, os dirigentes, a comissão e os jogadores tomam o caminho do vestiário.
Estamos humilhados não pelos resultados, mas pelo pouco caso que é feito de nós.
Até socos levamos, que ficaram impunes pela frouxidão da diretoria.
Vocês realmente acreditam que a torcida deseja vaiar o time?
Enquanto houver um menininho com a camisa do América,
Tocando a murga com a foto das gerações que vieram antes dele,
A sua pergunta será vazia de significado.
Cairemos, mas não seremos nocauteados.
Até o português dessa carta mostra nosso estado de coisas. Escrevo sobre vocês e nós.
O que mais gostaria hoje é voltar a escrever sobre todos nós.
Uma casa partida não pode permanecer.
Não é nos camarotes que o América vibra.
Talvez nem dentro do Independência, mas sim na rua Pitangui.
Se ao final do campeonato cairmos,
Quem terá caído será você e sua geração, bocudo jogador.
É em vocês que estará a marca do fracasso.
Nem mesmo a torcida poderá ser culpada, pois somos filhos de um divórcio forçado.
Você e seus pares tem contratos e salários.
Nós temos paixão e fé.
Jairo Viana Júnior








